Tropicália
a história de uma revolução musical
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Carlos Calado
336 p. - 16 x 23 cm
ISBN 978-85-7326-081-6
2010
- 2ª edição
O jornalista e crítico Carlos Calado, autor de A divina comédia dos Mutantes, realizou uma extensa pesquisa e inúmeras entrevistas para reconstituir a breve, mas extremamente rica, história do movimento musical conhecido como Tropicália. Entre 1967 e 1968, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, e contando com nomes como Tom Zé, Gal Costa, Capinan, Nara Leão, Torquato Neto e os Mutantes, o grupo renovou a nossa então vetusta MPB, incorporando elementos os mais diversos como a antropofagia de Oswald de Andrade, o Cinema Novo, o concretismo dos irmãos Campos, a vanguarda erudita de Rogério Duprat e Júlio Medaglia, o psicodelismo dos Beatles e o dramalhão de Vicente Celestino. Tendo o nome inspirado em uma instalação de Hélio Oiticica, os festivais como palco e o LP coletivo Panis et circensis como manifesto, o movimento foi abatido em pleno voo pela ditadura com o AI-5, em dezembro de 1968, e a prisão e o exílio de Caetano e Gil.
Texto orelha
Depois da sístole estética da bossa nova — uma reestruturação orgânica a partir da alteração de fundamentos da MPB anterior —, a diástole do tropicalismo. “Um movimento que veio para acabar com os outros movimentos.” Ou não? A Tropicália (nome que seu líder, Caetano Veloso, prefere ao anterior) distendeu o cordão sanitizado da bossa, abrindo as comportas da obra de arte para as margens do brega nativo e do pop internacional, numa operação programática de “sair e entrar em todas as estruturas”. O projeto teórico, concebido a partir da práxis revolucionária, incorporou na mesma geleia geral a medula do concretismo (dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari) e da vanguarda erudita (Rogério Duprat, Júlio Medaglia, Damiano Cozzela) ao osso da massificação, dos dramalhões de Vicente Celestino ao psicodelismo dos Beatles, Jimi Hendrix e Janis Joplin. Tropicália: a história de uma revolução musical, do jornalista Carlos Calado (que também publicou por esta coleção o correlato A divina comédia dos Mutantes), disseca o roteiro dessa colagem, que resultou ao mesmo tempo na continuidade e na ruptura da chamada linha evolutiva da MPB. Não foi um parto sem dor. Suas consequências extrapolaram o ambiente cultural. Caetano Veloso e Gilberto Gil, principais mentores do movimento, acabaram presos e expulsos do país pela ditadura militar, radicalizada a partir do Ato Institucional nº 5, promulgado em dezembro de 1968. Mesmo abatida em pleno voo, a Tropicália, da musa/estandarte Gal Costa, “organizou o movimento/ (re)orientou o carnaval”, como pregava a letra de sua canção-tema. Em pouco mais de um ano de duração, entre outubro de 1967 e o dezembro fatídico, ela injetou atitude num cenário ainda formalista herdado dos crooners de smokings e longos. Abriu espaço à explosão fragmentada da poesia de autores como Torquato Neto e José Carlos Capinan e ao experimentalismo militante de Tom Zé, Macalé e Waly Salomão. Aboliu a restrição ao instrumental eletro/eletrônico: depois das guitarras (dos Mutantes, de Lanny Gordin) que enfrentaram até passeatas, os teclados sintetizados (antecipados pelo uso do Theremin) passaram na alfândega cultural do país sem maiores barreiras. Subversão nas roupas, postura, letras e músicas e revisão antropofágica do “tupi or not tupi” de Oswald de Andrade provocaram um curto-circuito teórico linkado à derrubada de prateleiras da Semana de Arte Moderna de 1922. Além da ditadura militar e do movimento estudantil, que rejeitou de início a navilouca política da Tropicália, esses doces bárbaros enfrentaram hostilidades das próprias hostes da MPB. Seu pantagruélico banquete de devoração estilística foi contraposto ao cardápio musical apolíneo de Chico Buarque, por exemplo. Ou à face guerrilheira de Geraldo Vandré. Carlos Calado, paulistano com mestrado em artes pela USP, também autor dos livros Jazz ao vivo (1989) e O jazz como espetáculo (1990), sax-tenorista e colaborador da Folha de S. Paulo, recapitula a passagem do furacão a partir de entrevistas inéditas com seus principais integrantes. Desencavando dados nunca antes desvelados, eles remontam essa etapa efervescente da cultura do país, que ainda rola seus dados trinta anos depois em gerações subsequentes como a do teatro Lira Paulistana (Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Premê, Rumo) ou a do mangue-beat (Chico Science, Mundo Livre S.A.), entre outros. Até porque a arte/processo da Tropicália ainda espalha muita kryptonita no ar. E Deus continua solto! Tárik de Souza
Sobre o autor
Carlos Calado nasceu em São Paulo, em 1956. Jornalista, crítico e curador musical, estudou teatro na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, onde concluiu seu mestrado em 1989 sob a orientação de Jacó Guinsburg. Entre 1987 e 1994 trabalhou na redação da Folha de S. Paulo, permanecendo depois como colaborador do jornal, além de escrever para publicações como Vogue, Bravo!, O Tempo (MG) e Valor Econômico. A partir dos anos 2000 foi curador de diversos projetos musicais apresentados nas unidades do SESC em São Paulo, como “Sotaques do Samba” e “Da Malandragem à Pilantragem”. É autor dos livros Jazz ao vivo (Perspectiva, 1989), O jazz como espetáculo (Perspectiva, 1990), A divina comédia dos Mutantes (Editora 34, 1995) e Tropicália: a história de uma revolução musical (Editora 34, 1997), entre outros.
Veja também
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