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Contos dos sábios crioulos

 

Patrick Chamoiseau

Tradução de Raquel Camargo
Posfácio de Edimilson de Almeida Pereira

96 p. - 14 x 21 cm
ISBN 978-65-5525-241-5
2025 - 1ª edição

Autor de uma vasta obra que transita entre o romance e o ensaio, vencedor do Prêmio Goncourt em 1992, Patrick Chamoiseau é hoje uma das vozes mais expressivas e politicamente engajadas da literatura francesa. Herdeiro da tradição antilhana de Aimé Césaire e Édouard Glissant, o escritor martinicano, natural de Fort-de-France, se interessa por formas culturais e estéticas de sua ilha natal, em especial a oralidade poética das narrativas crioulas transmitidas por contadores populares. Um dos principais teóricos do movimento da “crioulidade”, sua escrita reflete a complexa realidade linguística e cultural caribenha, se conectando ainda às dinâmicas globais da afrodiáspora e da decolonialidade.

Contos dos sábios crioulos, seu primeiro livro de narrativas curtas publicado no Brasil, remonta ao período escravagista das Antilhas. Associando elementos das culturas africana e europeia, e apresentando personagens humanos ou sobrenaturais, estas dez histórias dão voz a um povo que busca driblar a fome, o medo e a vigilância colonial, ao mesmo tempo em que, por desvios e astúcias, transmitem sua mensagem também aos senhores.

Nessas narrativas de resistência, por vezes recriações da cultura oral popular, o “grito alçado das plantações” — retomando as palavras de Edimilson de Almeida Pereira no posfácio deste volume — ecoa aqui renovado, com a força de um poeta e pensador cuja matéria-prima, a linguagem, é forjada com precisão e criatividade sem iguais.


Texto orelha

Quem já viveu a experiência de compartilhar serões com pessoas marginalizadas — tão desprovidas de recursos que, quando fora do trabalho, não têm outro lazer senão reunir-se debaixo de uma árvore ou de um telheiro e contar e recontar histórias —, sabe que eles se assemelham por toda parte. Contadas em diferentes lugares, seja nos sertões do Brasil, seja nas ilhas do Caribe, seja em outros países da América Latina ou no sul dos Estados Unidos, é significativa a semelhança entre as narrativas que predominam nesses cenários: histórias de horror, de assombração, histórias de dar medo.


Para compreender o porquê dessa proximidade, é preciso lembrar outras características comuns a esses homens e mulheres: submetidos a formas de trabalho e exploração similares, são originários da mestiçagem de grandes contingentes de origem africana, escravizados nas Américas, e receberam alguma influência cultural dos povos autóctones e dos colonizadores europeus.


Qual seria o papel dessas histórias e de sua repetição constante até o presente? Sabendo que, embora com outras roupagens, os modos de dominação colonial persistem e até se agravam nessas regiões, tais histórias podem ter, sim, uma função comum entre as diversas populações oprimidas: habituar-se ao medo e fortalecer-se para conviver com ele, porque a vida está sob constante ameaça e qualquer deslize, qualquer suspeita de rebelião, pode resultar em violentos castigos. O medo faz parte do cotidiano, e para não sucumbir a ele é preciso capacitar-se, ter coragem e astúcia. É aí que aprendemos com os contadores crioulos. Com sua fala “enviesada, de uma significância difratada em mil migalhas sibilinas”, eles nos ensinam que “a força aberta é precursora da derrota”; é por meio dos desvios, do bom humor, da opacidade da língua falada, que fendas são criadas, a resistência é estabelecida, a sobrevivência se impõe.


Em Contos dos sábios crioulos, Patrick Chamoiseau nos põe diante de dez contos fundamentais da literatura antilhana, narrados pela voz do contador de histórias, mestre da palavra, “porta-voz de um povo acorrentado, esfomeado”, e habilmente escritos num francês crioulizado, aqui restituído para o português em toda sua criatividade e potencial de abertura para a imaginação de outros arranjos, outras relações, outros “possíveis”.


Maria Valéria Rezende


Sobre o autor

Patrick Chamoiseau, nascido em 1953 em Fort-de-France, Martinica, é uma das vozes mais importantes da literatura caribenha. Graduado em Direito e Economia, exerceu a função de educador social na França e depois na Martinica. Interessado por etnografia, ele se debruça sobre a formas culturais em vias de desaparecimento de sua ilha natal, mas também sobre o dinamismo de sua língua materna, o crioulo. Em 1986, publica seu primeiro romance, Chronique des sept misères, vencedor dos prêmios Loys Masson e Kléber-Haedens, e dois anos depois, Solibo Magnifique. Em 1989, juntamente com Jean Bernabé e Raphaël Confiant, escreve o influente manifesto Éloge de la créolité, inspirado nas teorias da negritude de Sédar Senghor e Aimé Césaire, em que reivindica uma identidade caribenha pautada na mestiçagem cultural. Desde então, assinou diversos ensaios, notadamente Lettres créoles (1999), com Raphaël Confiant, e L’intraitable beauté du monde (2009), com Édouard Glissant. Em 1992 recebe o prestigioso prêmio Goncourt pelo romance Texaco, nome de um bairro negro em Fort-de-France. Mais recentemente lançou Contes des sages créoles (2018), os ensaios de Le conteur, la nuit et le panier (2021), o manifesto poético Frères migrants (2017) e o atualíssimo Que peut Littérature quand elle ne peut? (2025), em que faz uma aposta no poder da literatura em acolher a alteridade e construir relações num mundo cada vez mais polarizado e opressor.



Sobre a tradutora

Nascida em João Pessoa, em 1987, Raquel Camargo é tradutora, editora e pesquisadora. É doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), com estágio doutoral na Sorbonne Université. Em sua tese, dedicou-se ao estudo de transferências linguístico-culturais que permeiam a atividade tradutória, com foco no romance Là où les tigres sont chez eux, de Jean-Marie Blas de Roblès. Como tradutora, trabalha prioritariamente com literatura africana francófona e literatura contemporânea francesa, tendo traduzido, no Brasil, autores como Patrick Chamoiseau, Gaël Faye, Abdellah Taïa, Scholastique Mukasonga, David Diop, Françoise Vergès, Monique Wittig e Pauline Delabroy-Allard, entre outros.



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