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A perspectiva inversa

 

Pável Floriênski

Apresentação de Neide Jallageas

144 p. - 13 x 21 cm
ISBN 978-85-7326-499-9
2012 - 1ª edição
Edição conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Considerado por muitos o “Leonardo da Vinci russo”, Pável Floriênski (1882-1937) foi matemático, filósofo e inventor, além de teólogo e padre da Igreja Ortodoxa. Frequentador dos círculos simbolistas de Moscou no início do século XX, engenheiro na Rússia pós-revolucionária, e depois vítima das perseguições políticas do stalinismo, Floriênski tem no ensaio A perspectiva inversa (1919) — publicado pela primeira vez no Brasil — um de seus mais importantes legados.

Antecipando questões fundamentais da história da arte no Ocidente, o pensador russo coloca em xeque o domínio da representação objetiva da realidade, e do observador como um ponto de vista estático e abstrato. Floriênski não apenas demonstra que as opções artísticas dos pintores de ícones, rudimentares aos olhos contemporâneos, não eram fruto da ignorância das técnicas que a Idade Moderna viria a difundir, como também sustenta que alguns dos melhores exemplos da arte renascentista devem muito de sua grandeza justamente à transgressão, consciente e sistemática, da perspectiva linear.

Sua análise do papel do corpo na relação com o espaço e o tempo, e a noção de que a arte deve pautar-se por uma compreensão integral da realidade têm encontrado ressonâncias nos projetos de diversos artistas da atualidade, bem como na trajetória do cineasta Andriêi Tarkóvski (1932-1986), um de seus mais notórios seguidores.


Texto orelha

“Toda relação com o espaço é afetiva”, diz Jasper Johns. E, de fato, é muito mais desafiador para um artista identificar e dar forma espacial a seus afetos, nomeados e inomináveis, do que aplicar docilmente os conceitos visuais hegemônicos de seu tempo. O espaço real e presente é interrogação constante, e se prolonga de modo distinto em cada olhar.


O conhecimento confere capacidade não só para erguer novos conceitos, mas também transgredi-los, quando o mundo real demonstra suas limitações. Os artistas inaugurais da perspectiva ocidental estiveram entre os primeiros a superá-la, já que seu conhecimento era tanto abstrato quanto fruto da experiência concreta. Masaccio, Dürer, Leonardo e tantos outros, foram capazes de usar poeticamente a perspectiva sem se tornarem dependentes da mera aplicação — ou imposição — de conceitos. Desde as primeiras experiências, a paisagem, incontrolável e caótica, contestou com as nuvens os limites de uma construção geométrica do espaço.


A partir do Renascimento, as novas ideias e o novo status do artista, agora socialmente superior ao artesão, alteraram as formas de aprendizado e aperfeiçoamento artístico, associando ao conhecimento artesanal os estudos teóricos. Estes, no entanto, tem um papel mais relevante do que fornecer argumentos para deslizar sem atrito na periferia do centro desejante da realização. Como fazem as nuvens, devem alargar a capacidade de reconhecer os preciosos obstáculos. É frutífero introduzir dúvidas nos programas de ensino. Em artes visuais, dúvidas sempre assumem configurações espaciais.


A figura de Pável Floriênski — matemático, teólogo, físico, historiador da arte, padre ortodoxo — é mais dissonante no conformismo atual do que em épocas revolucionárias. Tentou compreender melhor o espaço do passado para apreender melhor o espaço do presente. Tal como a perspectiva, qualquer noção contemporânea de espaço pode ser comodamente rebaixada a um patamar instrumental: uma aplicação que gera resultados previsíveis, justificáveis de antemão. Através da análise da perspectiva inversa empregada pelos pintores russos de ícones, Floriênski nos adverte que entre o processo de construção do espaço e as aspirações do artista não se traçam fronteiras. Entre espaço, corpo, mente, lápis, câmera e pincel, teoria e prática, não existem demarcações claras. Mas é somente na tentativa de realizar a obra que a situação desvela toda a sua complexidade: as hierarquias se embaralham, as consequências tornam-se imprevisíveis, as interpretações proliferam, as ações materiais apontam para novas tentativas.


O saber plural de Floriênski contestava a especialização imposta à formação do conhecimento. Um foco excessivamente estreito torna mais difícil perceber que a maior carga poética, na pintura russa de ícones, se encontra na perspectiva inversa, dissonante em relação ao espaço estabelecido.


Reconhecer qualidades exige presença e atenção — e o que há na arte senão qualidades? Uma delas é não haver garantia nenhuma. Numa época de quantidade e resultados, abundam os argumentos procurando forjar qualidades, e obras ditas de arte sem caráter, à espera de qualquer ficção legitimadora. O encontro com a obra de Pável Floriênski, até este momento ausente da bibliografia em língua portuguesa, pode turvar com rigor e paixão as nossas plácidas perspectivas.


Marco Buti
Professor do Departamento de Artes Plásticas da Universidade de São Paulo



Sobre o autor

Nascido em Ievlakh, no Azerbaijão, em 1882, Pável Aleksándrovitch Floriênski, padre ortodoxo, filósofo, matemático, historiador e teórico da arte, foi um dos mais influentes pensadores da denominada Idade de Prata russa, que, no início do século XX, reuniu filósofos, artistas e poetas tais como Marina Tsvetáieva, Serguei Diáguiliev, Marc Chagall, Aleksandr Blok e Óssip Mandelstam, quase todos perseguidos pelo regime. O legado de Floriênski constitui-se de tratados científicos na área da física e matemática, ensaios filosóficos, teológicos e sobre a arte e, ainda, vasta correspondência com escritores, artistas, filósofos e cientistas de seu tempo. Não obstante sua intensa participação em diversas frentes na Rússia pós-revolucionária, em 1937, acusado de atividades subversivas, foi condenado à morte e executado pelo regime stalinista.



Sobre os tradutores

Neide Jallageas realiza pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Russo da Universidade de São Paulo, com estágio no Centro Eisenstein de Pesquisa, em Moscou (projeto contemplado pela Fapesp), investigando o cinema russo e, em especial, a obra de Serguei Eisenstein em confluência com o cinema e as artes na Rússia do século XXI. É doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com tese sobre o cinema de Andriêi Tarkóvski, a partir dos estudos de Pável Floriênski. Mestre em Estética do Audiovisual (ECA-USP), traduziu um conto de Clarice Lispector para a linguagem do vídeo e da fotografia, trabalho que se encontra em acervos públicos (MAM-SP, Coleção Pirelli/MASP, SESC-SP). Integra o quadro de professores do Bacharelado em Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes. Concebeu e edita os cadernos de pesquisa sobre cinema russo kinoruss.


Anastassia Bytsenko é tradutora e pesquisadora. Assina com Adriano Carvalho Araújo e Sousa a tradução de O sacrifício de Andriêi Tarkóvski (É Realizações, 2012). Verteu três textos de Lev Tolstói, dentre os quais “Shakespeare e o drama” e “O que é a arte?” para a coletânea Os últimos dias (Companhia das Letras, 2011). Traduziu ainda artigos e ensaios em periódicos especializados. Realizou pesquisa de mestrado sobre a imigração russa no Brasil e atualmente desenvolve pesquisa de doutorado sobre o teatro de Tolstói no Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Cultura Russa da Universidade de São Paulo.



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